quinta-feira, 2 de julho de 2009

Christiane F.

Comecei a ler "Eu Christiane F. 13 anos Drogada e Prostuída, confesso que me supreendi, o livro é chocante. Quando não estava lendo ficava pensando o que aconteceria com Christiane nas páginas seguintes.
A Seguir colocarei trechos do livro realmente chocantes.

"...Enquanto os bêbados carregavam seu stress ao Centro e descarregavam sua agressividade, os caras de nosso grupo eram capazes de se desligar. Terminada a jornada de trabalho, eles faziam coisas que lhes agradavam: se drogavam, escutavam música agradável... Era a paz. Esquecíamos todas as merdas da jornada...''
"...Fumava todas as tardes. Na turma, os que tinham dinheiro emprestavam para os que não tinham. Eu não me preocupava mais em esconder que fumava maconha. No Centro de Jovens isso não era mais segredo. Periodicamente, os assistentes sociais nos faziam sermões. Mas a maioria deles reconhecia que também já fumara."
''...Fumar somente já não bastava. Quando não tinha droga, bebia vinho, cerveja. Começava desde que saía da escola ou mesmo pela manhã, nos dias em que cabulava as aulas. Tinha necessidade de estar um pouco embalada, um pouco voando. Eu tinha essa vontade para escapar de toda aquela merda..."
"...Tomamos o metrô e, aí sim, a coisa começou a funcionar. Uma verdadeira loucura! Tive a sensação exata de estar dentro de uma lata de conserva e que alguém remexia lá dentro com uma colher gigante. O barulho do metrô, quando no túnel, era de enlouquecer..."(após LSD)
''...Tive a impressão de ter passado num exame com sucesso. A partir daí, quando me ofereciam um comprimido de LSD, eu aceitava. Passei a ver as coisas e as pessoas de uma maneira totalmente diferente. Reencontrei a natureza. Antes eu tinha contato com a natureza graças ao meu cachorro, quando eu ia passear com ele. Agora era uma nova experiência. Quando não tinha ácido, fumava um baseado antes do passeio. E fui descobrindo uma natureza desconhecida. Tudo se dissolvia em cores, formas e sons, refletindo o meu humor do momento...''
"....O papo era sempre o mesmo: a maconha, a música, a última "viagem", o preço da maconha, do LSD e dos diversos comprimidos, que iam ficando sempre mais caros..."
"...Já não tomava dois comprimidos, mas quatro ou cinco. Ia ao Centro de Jovens para pedir dinheiro para um baseado e em seguida corria para o metrô...''
"...Quando queria fazer uma verdadeira festa no Sound, quando queria mesmo desafogar, carregava na Efedrina. Se queria ficar tranqüila, assim na minha, ou ver um filme no cinema do Sound, me enchia de Valium e "Mandrake..''
"...Na sexta, tudo recomeçou. Engoli alguns comprimidos de Valium com cerveja e ainda mandei uns "Mandrakes" para dentro..''
''...Acho que, sem perceber, mudei minha atitude em relação à Heroína no decorrer dessas semanas, quando os comprimidos, a maconha e o LSD não me traziam mais nada.''
''...Não percebia que nesses últimos meses eu me preparava, inconscientemente, para passar à heroína. Não percebi, naquele momento, que estava deprimida...''
''...Peguei minha dose e usei! Era amargo e irritante. No início foi tudo o que senti. Procurei não vomitar. E depois a coisa começou bem depressa. Sentia os membros pesados e ao mesmo tempo terrivelmente leves. Fiquei muito cansada, e foi aquele prazer. Todos os meus problemas desapareceram...''
''...Pedi aos outros para não darem heroína a Stella. Mas alguns dias mais tarde ela acabou convencendo Blacky, um cara da turma do Sound que se tornou sua transa. Ela começou a cheirar, e é claro que Babsi a imitou..''
''..À noite fui à Kurfürstenstrasse e comprei quarenta marcos de heroína. Nunca tivera tanto de uma só vez. Depois comprei seis marcos de cigarro (tornei-me uma fumante inveterada, capaz de acabar com um maço em duas ou três horas)...''
''...Uma menina do Sound, Tina, nos acompanhou. Detlef tirou seus objetos de um saco plástico: seringa, colher, limão. Pôs a heroína na colher, juntou um pouco de água e de suco de limão. Assim, a coisa, que não era completamente pura, dissolvia melhor. Ele esquentou a heroína com um isqueiro e encheu a seringa. Era uma velha seringa descartável. Uma sujeira repugnante com uma agulha completamente rombuda...''
''...Ele me disse que era nojento, mas pegou a seringa. Como minhas veias estavam pouco à vista, teve dificuldade em encontrar uma..."
"...Quando me sentia verdadeiramente na fossa, pensava: você é uma drogada que tem sua primeira hepatite e pronto..."
''...Aliás, não tinha muita vontade de saber. Tudo o que sabia era que isso consistia em satisfazer bichas, sem que ele mesmo sentisse prazer, e que isso dava muita grana. Não pedi explicações. Entreguei-me totalmente à felicidade de ver Detlef, de amá-lo e de ser amada...''
''Bernd acabara de sair com um "cliente". Esperamos. ''
''...Detlef não falou mais nada. Tirou do bolso do seu jeans um pacotinho de ácido ascórbico, foi buscar uma colher, esquentou tudo sobre o fogo de uma vela, e me deu a seringa toda preparada. Como eu estava tremendo, foi difícil encontrar a veia, mas, mesmo assim, consegui com certa rapidez...''
''...Você quer ganhar uma nota de cem? — Uma vez eu lhe perguntei o que ele queria em troca. Ele respondeu: — Nada em particular. — Eu lhe dei uma violenta gozada...''
"... Tive sorte, encontrei imediatamente nosso revendedor habitual. Vendo aquele monte de dinheiro, ele me perguntou: — Onde você pegou isto? Você se prostituiu?''
''...Eu deveria apenas ficar nua da cintura para cima. Concordei. Pensava que bater me daria um certo alívio, pois sempre desejei agredir os clientes de Detlef..."
''...Tirei minha blusa e ele me deu um chicote. Pareceu-me que estávamos num filme. Tive a impressão de que deixava de ser eu mesma. No início não batia muito forte, mas ele pediu que eu batesse mais forte. Eu mandei brasa. Ele gritava: "Mamãe!"
''...Desde então eu mesma conseguia o dinheiro para minha heroína. Fazia um sucesso terrível, podia escolher meus clientes e ditar minhas próprias condições.''
''...Babsi tinha tudo, até muitas seringas. Não usávamos seringas descartáveis, difíceis de serem encontradas. A agulha da minha estava tão rombuda...''
''...Imediatamente começamos a falar dos clientes. Stella fez um relato sobre Babsi, sua melhor amiga. Era a degradação total. O tal Heinz era um cara imundo, um velho gordo e suado. E Babsi dormia com ele..''
''..Stella trabalhava com motoristas, na "putaria de crianças" da Kurfürstenstrasse, onde quase todas as meninas de treze, catorze anos, eram viciadas. ''
''... ela era exatamente o que os caras vinham buscar. Uma vez ela fez cinco clientes e ganhou duzentos marcos em uma hora.Com seus treze anos, sua cara de menininha inocente sem maquilagem, sua silhueta esguia, na "prostituição..''
''Detlef me acusava de dormir com clientes. Ele estava com um ciúme danado.''
''...A heroína, a agitação em que vivíamos, a batalha cotidiana pela heroína e pela grana, o stress em casa (era preciso esconder o tempo todo, inventar novas mentiras) colocavam nossos nervos a zero...''

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